
ANEURISMAS CEREBRAIS
Você pode ter um aneurisma cerebral há anos e não saber disso. Mas se você começar a ter fortes dores de cabeça, fazer um check-up pode salvar sua vida.
Freqüentemente, um aneurisma cerebral não é encontrado até que você consulte seu médico por causa de dores de cabeça latejantes, agudas ou até mesmo surdas que não desaparecem. O diagnóstico pode ser uma surpresa completa. E pode ser avassalador saber que você está convivendo com uma condição que pode se tornar muito grave a qualquer momento. Quando um aneurisma cerebral rompe, pode ser fatal.
Você sabe oque é um aneurisma cerebral?
O aneurisma cerebral é uma dilatação, semelhante a uma “bolha” que se formou em uma parte frágil da parede arterial no cérebro. Esta doença é relativamente frequente na população mundial, cerca de 3.2% de toda a população saudável no mundo irá desenvolver um aneurisma ao longo da vida. Até 6% das pessoas nos EUA têm um aneurisma cerebral, assintomático (que não está sangrando/aneurisma não roto). Aneurismas cerebrais rotos são menos comuns. Eles ocorrem em aproximadamente 30.000 pessoas nos EUA por ano.
No Brasil, acomete cerca de 6 mil pessoas por ano. Além disso, há indivíduos que possuem fatores de risco, para desenvolver aneurisma cerebral, que provavelmente irá aumentar porcentagem epidemiológica mencionada anteriormente.
Os aneurismas cerebrais podem afetar qualquer pessoa e em qualquer idade. Mas é mais provável que afetem pessoas com idades entre 30 e 60 anos. Também são mais comuns em mulheres e pessoas designadas como mulheres ao nascer do que em homens e pessoas designadas como homens ao nascer.
O que causa o aneurisma cerebral?
Entre as principais causas deste problema, estão:
Histórico familiar; Genética; Hipertensão; Tabagismo; Consumo de álcool; Consumo de drogas psicoativas, como maconha e cocaína; Diabetes; Dislipidemia (aumento dos níveis de colesterol e triglicérides). Doenças do colágeno; Associação com algumas outras síndromes ou doenças de múltiplos sistemas.
Há casos em que o indivíduo nasce com fraqueza nas paredes das artérias, o que pode levar a um aneurisma. Além disso, pacientes portadores de determinadas doenças podem ter predisposição ao desenvolvimento de aneurisma, como síndrome de Marfan, Ehlers-Danlos tipo IV (doença genética envolvendo colágeno), doença renal policística, displasia fibromuscular, mal formação arteriovenosa. Dois ou mais parentes de primeiro grau (pais, filhos, irmãos) com aneurisma cerebral têm muito mais probabilidade de ter um aneurisma do que a população em geral, portanto, avaliação com um profissional especialista no assunto, seja um neurologista, um neurocirurgião ou diretamente um neurorradiologista intervencionista é recomendado.
Quais são os sintomas?
É de vital importância esclarecer que majoritariamente, a formação de um aneurisma ocorre lenta e gradualmente e muitas vezes sem sintomas. É imprescindível reforçar que os aneurismas não rotos (aqueles que não sofreram hemorragia) geralmente não causam qualquer sintoma, sendo que 10/100 000 podem apresentar-se assintomáticos até o momento de uma possível ruptura. Os sintomas passam a aparecer quando ele cresce e comprime áreas do cérebro e ou nervos cranianos dessa região manifestando diversos e variados sintomas, tais como diplopia (visão dupla), ptose palpebral (queda da pálpebra), alteração função pupilar (exemplo pupila “menina dos olhos”) entre outros diversos sintomas.
Há ainda sintomas importantes no momento em que o aneurisma se rompe, quando ocorre a hemorragia intracraniana. Os sinais mais frequentes desta fase avançada, em que o aneurisma se rompeu, são:
Dor de cabeça súbita e intensa, “geralmente a pior dor de cabeça da vida”; Desmaios; Náuseas; Vômitos; Convulsões; Perda da função esfincteriana, “perda do controle urinário e ou de defecar”
Quando se rompe, o sangue derrama (hemorragias) no tecido cerebral circundante. O sangue pode colocar pressão excessiva no tecido cerebral e fazer o cérebro inchar. Geralmente causa uma forte dor de cabeça chamada dor de cabeça em trovoada, além de outros sintomas.
Um aneurisma cerebral roto pode causar sérios problemas de saúde, como:
-Hemorragia subaracnoídea (HSA): Sangramento na área entre o cérebro e os tecidos finos que o cobrem e protegem (a camada aracnóide). Cerca de 90% das HSA, não traumáticas, são causadas por rutura de aneurismas cerebrais.
Isso pode resultar em danos cerebrais permanentes ou outras complicações, como:
-Vaso espasmo: Isso acontece quando os vasos sanguíneos ficam mais estreitos ou reprimidos e menos oxigênio chega ao cérebro.
-Hidrocefalia: Isso acontece quando um acúmulo de líquido cefalorraquidiano ou sangue ao redor do cérebro aumenta a pressão sobre ele.
-Convulsões: Uma convulsão é um aumento temporário e descontrolado de atividade elétrica no cérebro. Pode piorar os danos cerebrais devido à rutura de um aneurisma.
-Coma: Estado de inconsciência prolongada. Pode durar dias a semanas.
-Morte: Aneurismas cerebrais rotos resultam em morte em cerca de 50% dos casos.
Quais são os fatores que contribuem para a rotura precoce de um aneurisma cerebral?
Os fatores que contribuem para o desenvolvimento de um aneurisma cerebral também podem causar sua ruptura e sangramento.
Diversos trabalhos científicos, incluindo metanálises e guide-lines, comprovaram que a pressão alta é a causa mais comum de ruptura. A pressão arterial descontrolada faz com que o sangue empurre com mais força contra as paredes dos vasos sanguíneos.
Situações que podem aumentar a pressão arterial e levar à ruptura de um aneurisma cerebral incluem:
- Estresse contínuo ou uma explosão repentina de raiva ou outra emoção forte.
- Trabalho “braçal extenuante” para levantar, carregar ou empurrar algo pesado, como pesos ou móveis.
-Pressão alta conhecida que não é tratada adequadamente com medicamentos.
Muitos fatores determinam se um aneurisma tem probabilidade de estourar, incluindo:
Tamanho e forma: Aneurismas menores podem ter menos probabilidade de sangrar do que os maiores e de formato irregular.
Crescimento: Se um aneurisma cresceu ao longo do tempo, pode ser mais provável que se rompa.
Localização: Os aneurismas nas artérias comunicantes posteriores (um par de artérias na parte posterior do cérebro) e na artéria comunicante anterior (uma artéria na parte frontal do cérebro) têm um risco maior de ruptura do que os aneurismas cerebrais em outros locais.
Raça: Pessoas de ascendência japonesa ou finlandesa apresentam maior risco de ruptura do aneurisma.
Idade avançada: Pessoas com mais de 70 anos correm maior risco de ruptura do aneurisma.
Pessoas que têm múltiplos aneurismas cerebrais ou que tiveram um sangramento de aneurisma anterior correm maior risco de ruptura do aneurisma cerebral.
Como eu poderia preveni-lo?
Com hábitos simples do dia a dia, é possível controlar os fatores de risco que levam desenvolvimento de um aneurisma, ou ao aumento de seu tamanho.
A maioria dos fatores de risco estão relacionados a hábitos de vida e alimentação, sendo assim recomenda-se que as pessoas tenham hábitos mais saudáveis, o que inclui uma alimentação balanceada, com pouca gordura e açúcar, a prática de exercícios físicos regulares, o controle da pressão arterial e diabetes, além do abandono do consumo de cigarro e de álcool.
Também é importante realizar consultas periódicas com um médico especialista, seguindo sempre suas orientações e realizando exames preventivos.
Como os aneurismas cerebrais são diagnosticados?
A maioria das pessoas com aneurisma cerebral não roto não sabe que tem um. Um profissional de saúde pode encontrar um durante um exame de imagem do seu cérebro, como uma ressonância magnética ou tomografia computadorizada realizada por um motivo médico diferente.
Se você tiver sintomas de aneurisma cerebral, como dor de cabeça intensa, ligue para o SAMU ou vá ao pronto-socorro. Um profissional de saúde solicitará exames para verificar se um aneurisma cerebral rompeu. Esses testes podem incluir:
-Tomografia computadorizada: geralmente é o primeiro exame de imagem que um médico solicita para verificar se houve vazamento de sangue em seu cérebro. A angio- tomografia computadorizada (Angio-tc), que produz imagens mais detalhadas do fluxo sanguíneo nas artérias do cérebro, também pode ser utilizada para tentar identificar a causa do sangramento com maior acurácia. A Angio- TC pode mostrar o tamanho, a localização e a forma de um aneurisma não roto ou roto, mas não é o padrão ouro.
Rastreio por Angio-ressonância magnética: A angio- RM produz imagens detalhadas das artérias do cérebro e pode mostrar o tamanho, a localização e a forma de um aneurisma, não tão detalhadas como a Angio-TC, porém de grande valia.
Angiografia cerebral: A angiografia cerebral é realizada por um profissional treinado na área de atuação em que chamamos de Neurorradiologia intervencionista, e é muito relevante para estabelecer o diagnóstico do paciente.. Através da cateterização dos vasos do pescoço são obtidas imagens mais precisas das artérias do pescoço e do cérebro. Este tipo específico de imagem pode encontrar bloqueios nas artérias do cérebro ou pescoço. Também pode identificar pontos fracos em uma artéria, como um aneurisma. Este exame é o padrão ouro para identificar a causa do sangramento cerebral, a localização, o tamanho e formato exatos de um aneurisma.
Análise do líquido cefalorraquidiano (LCR): Este teste avalia o líquido que envolve e protege o cérebro e a medula espinhal (líquido cefalorraquidiano). Para a realização do estudo deve haver uma coleta de amostra do LCR realizando uma punção lombar (punção lombar). A análise pode detectar micro-sangramentos através do liquido raquidiano que envolve o cérebro e a medula. Esse exame geralmente é realizado quando não são identificados a causa aparente da alteração neurológica repentina, num paciente com suspeita de hemorragia cerebral não identificável pelos métodos de imagem.
O tratamento pode ser realizado de duas formas por um neurorradiologista intervencionista ou com um neurocirurgião. A escolha deve ser realizada de forma racional levando em consideração o custo benefício de cada conduta, sempre levando em consideração oque for melhor para o paciente, pois ambos os tratamentos possuem os seus benefícios, dependendo muito de cada caso. A neurorradiologia intervencionista é a técnica menos invasiva e que apresenta resultados cada vez mais promissores e com menor tempo de internação